quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Resumo-tradução do Capítulo 8 (METADE): We’ll support you evermore? Football in the Media Age, 1961-1985.

Esquema de

RUSSELL,Dave

(1997) Football and the English – A social history of Association Football in England, 1863-1915. Preston: Carnegie Publishing. Capítulo 8: We’ll support you evermore? Football in the Media Age, 1961-1985. pp. 181-208.

[i] Prólogo (181):

- Escrevendo em 1984, o sociólogo Stephen Wagg argumentava que, “Pela maioria dos critérios o principal significado do futebol na sociedade britânica contemporânea é de um show de televisão”. Embora a relação entre o futebol e a televisão forme apenas uma parte relativamente pequena deste capítulo, a sagaz afirmativa de Wagg identifica o fato central que ditou as relações entre futebol e sociedade no período entre os anos 60 e 80. Tão simplesmente, mais pessoas experimentaram o futebol pela televisão, e pela mídia em geral, do que assistiram em estádios. Isto modelou as percepções, lealdades e atitudes de maneiras cruciais. Em um extremo, os clubes principais ganharam uma imagem crescentemente glamorosa e um número crescente de adeptos. Por outro lado, a imagem de um esporte atormentado pelo hooliganismo diminuiu o status e a importância do futebol. Em 1985 as imagens negativas superaram as positivas e o futebol entrou em crise.

[ii] Crowds, hooligans and fans (181-194):

(181) A composição social do público do futebol mudou muito pouco no período. A única exceção é que o jogo passou a atrair uma maior proporção de jovens (do sexo masculino) menores de 20 no final do período em questão, um ponto que será significativo no que diz respeito à questão do hooliganismo. Aparte isso, mesmo no fim dos anos 80, cerca de 80% dos torcedores ainda eram provenientes da classe trabalhadora e de ocupações próximas. Grupos étnicos minoritários continuavam a ser sub-representados, formando somente 1 ou 2% do público típico, cuja vasta maioria ainda era do sexo masculino. Já se falava na necessidade de atrair mais público feminino, mas isto geralmente ocorria quando as revistas estavam sem ter o que publicar.

(182) O mais impressionante é que o público continuou a cair neste período. O público total [das 4 divisões da Football League] caiu de 28.619.754 em 1960-1 para um recorde negativo de 16.488.577 em 1985-6. Neste quadro geral, houve interessantes contra-correntes. Houve, por exemplo, sete temporadas entre 1962-3 e 1976-7 em que o público total na verdade cresceu, com o crescimento mais marcado ocorrendo no fim dos anos 60. O sucesso da Inglaterra na Copa de 66 é geralmente visto como a causa deste aumento, que viu o público chegar a 30 milhões na temporada 1967-8 pela primeira vez em quase uma década. Só depois de 1977-8 é que o declínio tornou-se contínuo, com 9.7 milhões de torcedores abandonando o jogo em 1986.

(182) Também vale a pena notar que alguns clubes tiveram mais sucesso em manter o público do que outros. O público da primeira divisão se manteve bem mais do que o das outras divisões, declinando somente 30% entre 1961-2 e 1985-6, comparado com quedas de 50% na 2ª., 48% na 3ª. e 64% na 4ª. divisão. Estas diferenças foram causadas em parte pela escolha dos torcedores, em parte pelo poder das imagens geradas pela cobertura de TV e imprensa geralmente intensa dispensada aos clubes mais importantes. Os padrões de torcida para determinados clubes também são reveladores. Em geral, a maioria dos clubes viu a presença dos torcedores aumentar e cair mais ou menos de acordo com seu sucesso dentro de campo. O Arsenal, por exemplo, teve uma média de 43.776 na temporada em que fez o double [campeão da 1ª. divisão e FA Cup] em 1970-1, que despencou para apenas 26.945, à medida em que o time caía para a 17ª. posição em 1975-6, antes de se recuperar em 1978-9, quando alcançaram um respeitável 7º. lugar e venceram a FA Cup, com uma média de público de 36.771. Um pequeno número de clubes, todavia, manteve uma surpreendente lealdade na adversidade, sobretudo Newcastle e Sunderland, ambos regularmente entre os 10 clubes com mais público na FL a despeito de longos períodos na 2ª. divisão. Novamente, pode falar-se que a idéia da lealdade dos torcedores do nordeste da Inglaterra versus a volubilidade sulista tem algum apoio nos registros históricos.

(183) O mais impressionante desempenho em termos de público pertence ao Manchester United. O clube sempre teve bastante torcida, com sua posição na tabela de público sendo geralmente superior a sua posição na tabela de classificação. Nos anos 50 e no início dos anos 60, todavia, os públicos do Manchester United seguiam mais ou menos um padrão estável, com o tamanho do público refletindo mais ou menos o sucesso dentro de campo. A grande transformação ocorreu em 1966-7, quando seu triunfo na 1ª. divisão em um ano de crescimento em geral do público viu a média saltar de 38.769 na temporada anterior para 53.854. Na temporada seguinte, quando ficaram em 2º. na liga e ganharam a Copa Européia [hoje Champions League], os números subiram ainda mais para 57.552, a maior média de público jamais alcançada por um clube inglês. Daí pra frente, o United continuou a reunir um público massivo. Nas 22 temporadas entre 1964-5 e 1985-6 eles foram o time com mais torcida no país em 19 ocasiões, sofrendo uma queda de apenas 1% no público em um período em que a 1ª. divisão como um todo sofria uma queda de 29%. Significativamente, tudo isso acontecia a despeito de uma performance dentro de campo que era, particularmente nos anos 70, geralmente modesta. Mesmo um período desastroso entre 1972 e 1975 que viu o United em 18º. Lugar e depois rebaixado para a 2ª. divisão alterou muito pouco os níveis de público.

(183-4) Algo mais do que simples lealdade local estava operando aqui, pois o United claramente estava atraindo torcedores de todo o norte e, na verdade, de outras partes do país. A um grau até então desconhecido, os torcedores estavam pagando para se identificarem com um time, quase com um produto, tanto quanto aos resultados dentro de campo. Embora a tragédia de Munique tenha dado ao clube uma aura que o diferenciava de todos os outros, isto não parece ter sido o fator crucial que permitiu ao United conquistar a posição de primeiro clube “glamoroso” moderno da Inglaterra. Embora os públicos fossem geralmente grandes imediatamente após Munique, o United passou em geral por variações de público normais mesmo após Munique. Na verdade, a história de Munique pode ter começado a exercer uma influência poderosa na imagem do clube depois que essa imagem foi modelada posteriormente, no final da década de 1960.

(184) A posição particular do clube parece derivar de 3 fatores em ação no período crucial entre 1966-7. Primeiro, o clube beneficiou-se enormemente da publicidade que cercou seus feitos na Copa Européia de Clubes. Quando demoliram o Benfica por 5x1 em Lisboa em março de 1966 eles ganharam enorme publicidade, sintetizada pela manchete do Daily Mirror com uma foto de George Best em um sombrero, com a legenda “El Beatle”. Muitos vêem este momento como definidor da emergência do jogador de futebol como uma verdadeira estrela midiática e o United só poderia beneficiar-se da nova notoriedade do jogador. Novamente, a conquista da 1ª. divisão em 1967 veio em uma época em que, graças ao sucesso da Inglaterra na Copa de 66 e ao rápido crescimento do futebol televisionado, o jogo estava em um pico incrivelmente alto. Acima de tudo, o United era uma equipe brilhante, Best, Bobby Charlton (um herói da copa do mundo particularmente popular) e Denis Law fornecendo três tipos muito diferentes mas poderosos de heróis futebolísticos. Em uma época de futebol crescentemente defensivo, a capacidade do United em vencer a 1ª. divisão com 84 gols, 20 a mais do que o clube mais próximo, trouxe excitação e romance para Old Trafford e outros campos ingleses. Os eventos de 1966-7, portanto, asseguraram ao Manchester United uma popularidade e um status que os revezes futuros somente raramente diminuíram. A desagradável consequência para o United foi que o influxo de novos torcedores incluía uma parcela pequena mas muito badalada na imprensa de hooligans, embora, ironicamente, para alguns torcedores jovens isto apenas aumentasse o apelo do clube junto a eles.

(184-5) A maioria dos outros clubes podia apenas invejar Old Trafford à medida em que eles sofriam para tentar explicar a ausência de público nas suas arquibancadas. Uma série de explicações foi formulada para explicar esse processo. Algumas enfatizam as mudanças na demanda. Em 1961, 91% dos lares britânicos tinha uma televisão e não é surpreendente que a TV, e especialmente o futebol televisionado, tenha sido visto como o pivô do declínio de público. Certamente, seria possível sugerir várias maneiras pelas quais a cobertura de televisão ameaçava o jogo ao vivo. Um argumento era simplesmente que as pessoas poderiam aproveitar o futebol no conforto da sala de estar achando portanto menos interessante ir aos jogos. Outro afirmava que a TV proporcionava aos torcedores de clubes menores um jogo de maior qualidade do que aquele com que eles normalmente dispunham ao vivo (qualidade geralmente realçada por edições criteriosas), encorajando-os a abandonarem as arquibancadas totalmente ou a procurarem um time mais “glamoroso”. Alternativamente, alguns sublinharam o efeito da TV como desfazendo mitos ao invés de criá-los, argumentando que o futebol televisionado tornava o que antes era um esperado programa quinzenal em algo banal, portanto desencorajando o comparecimento aos jogos ao vivo.

(185) É provável que de todas essas variadas formas, e tão simplesmente fornecendo uma forma alternativa de entretenimento no sábado, a TV realmente tenha exercido uma influência em termos da queda de público. Deve-se sublinhar, entretanto, que os “milhões de torcedores desaparecidos” do futebol tinham começado a se ausentar das arquibancadas muito antes que o futebol televisionado houvesse se tornado uma característica do ambiente esportivo. É importante notar também que, em certos momentos do futebol televisionado, os públicos aumentaram; o período imediatamente após o sucesso na Copa do Mundo de 1966 é um exemplo óbvio. Da mesma forma, momentaneamente focalizando um período posterior, os públicos aumentaram a cada ano depois de 1986-7, a despeito do fato de que a cobertura do futebol na TV tenha aumentado grandemente neste período. A TV pode ser parcialmente responsável por estes aumentos somente no sentido de que, em momentos quando o futebol desfrutava de uma imagem positiva na cultura nacional por causa do sucesso da seleção ou por causa de um clube importante, a televisão era capaz de reforçar esta imagem e fazer do comparecimento ao estádio uma escolha razoável. Em outras épocas, o futebol ao vivo e o televisionado sofreram juntos, com o público de ambos caindo no final dos anos 70, por exemplo. Parece que várias e complexas relações existem entre o futebol televisionado e os padrões de público do que simplesmente a televisão prejudicando a presença do público nos estádios.

(185-6) Acima de tudo, a explicação mais forte do ponto de vista da demanda, e provavelmente a mais convincente de todas as explicações, assenta-se no simples fato de que muitas pessoas continuaram a achar outras coisas para fazer em um contexto de uma aumento geral dos padrões de vida e de um concomitante aumento na escolha disponível para os consumidores. A reestruturação do fim de semana tradicional foi um fator importante neste contexto, com a tendência crescente a que o trabalho terminasse na 6ª. feira colocando o jogo de futebol no meio do fim de semana ao invés de permitir que ele funcionasse como um atraente e simbólico início do descanso semanal. Níveis crescentes de posse de automóveis continuaram a exercer um papel importante, também, permitindo todos os tipos de atrações capazes de levar as pessoas para longe de cenários tradicionais, inclusive estádios de futebol. Como notamos no capítulo anterior, o acesso crescente ao transporte privado também permitiu aos torcedores adotar um clube grande de uma cidade vizinha às custas do clube local.

(186) Enquanto uma relativa abundância era sem dúvida responsável pela falta de muitos torcedores, as dificuldades daqueles que não podiam desfrutar desses prazeres não devem ser menosprezadas. A partir do fim dos anos 70, o desemprego certamente exerceu uma influência em termos de público. Os números do desemprego oficial mostram um aumento de 700.000 em janeiro de 1975 para um pouco mais de 3 milhões no início de 1981. Dos 9.7 milhões de torcedores desertando do futebol entre 1977 e 1986, mais de 6 milhões foram perdidos nas três temporadas entre 1980-3, com públicos caindo 2.7 milhões na temporada de 1980-1 quando o desemprego alcançou seu pico. Mesmo alguns clubes de ponta sofreram com isso. A região do Merseyside [Liverpool e Everton] foi fortemente afetada pela recessão e o Liverpool experimentou uma queda de 16% no público em 1980-1, em uma época em que a queda geral na primeira divisão foi de apenas 6%. Como na década de 1930, os torcedores mostraram grande poder de escolha gastando com sabedoria os parcos recursos. Enquanto os jogos mais importantes do Liverpool na 1ª. divisão bem como os jogos da Copa Européia continuaram a lotar Anfield, jogos menos importantes viram o público despencar. À medida em que o alto desemprego tornou-se uma característica central da sociedade britânica, alguns clubes foram autorizados a fornecer descontos para os desempregados, mas para uma significativa minoria de torcedores o declínio das indústrias significava privação de lazer da mesma forma que em muitas outras áreas de suas vidas.

(186) Os fatores ligados à oferta também têm grande importância na discussão acerca da queda do público. O fato de que os torcedores tinham que pagar somas crescentes pelo privilégio de ingressarem em estádios decadentes tem sido visto como importante por uma série de observadores. Os preços cresceram ininterruptamente no período e à medida em que a inflação crescia e os públicos caíam quase continuamente, os clubes aumentavam seus preços tentando recuperar a perda de renda. Em 1983, a entrada mais barata na 1ª. divisão estava entre 2 e 2,5 libras. Para muitos, isso significava somente um aumento real marginal nos custos de entrada, mas era um problema sério para os mal pagos e para os desempregados. Muitos torcedores viram-se pagando mais para frequentar estádios muito mal mantidos e equipados. Enquanto nos anos 60 alguns clubes, principalmente o Manchester United, o Tottenham e o Sheffield Wednesday, tinham investido consideravelmente em novas arquibancadas, ou tinham conscientemente buscado atrair torcedores de classe média através do fornecimento de boxes executivos e de melhorias e mais conforto, muitos estádios haviam mudado muito pouco desde o período entre-guerras.

(187) Os torcedores de futebol, todavia, não devem ser vistos como consumidores ortodoxos e muitos aceitavam as instalações tradicionais e demonstravam pouco entusiasmo por mudanças profundas. Como os anos 80 e 90 demonstrariam, muitos torcedores não queriam lugares sentados como alguns visionários pensavam que eles deveriam querer. Ademais, diretores planejando novas arquibancadas e outras alterações maiores estavam plenamente conscientes da impopularidade dos seus colegas cujos gastos em tijolos e cimento ao invés de jogadores haviam levado ao rebaixamento ou a maus resultados. Embora más condições tenham afastado alguns torcedores, as baixas expectativas dos mesmos e sua aceitação das realidades econômicas do futebol sugerem quem o argumento acerca das “instalações” não deve ser visto como um fator de peso influenciando a presença do público. Significativamente, foi necessária uma legislação parlamentar na forma da lei de 1975 sobre a Segurança nos Estádios, ela mesma originada por um grande desastre ocorrido no Ibrox Park em Glasgow em 1971 que fez com que os grandes clubes começassem a atentar um pouco mais não somente para a segurança mas para toda a questão das instalações. Muitos times das divisões inferiores, com pouco dinheiro e excluídos da lei, simplesmente ignoraram o problema.

(187) A natureza e a qualidade do jogo em si tem se mostrado uma outra área fértil em termos do debate acerca da presença do público, muito dele centrado na crença de que a natureza crescentemente defensiva do jogo foi um motivo pelo qual os torcedores se afastaram. O Football Monthly Digest não foi o único órgão da imprensa a perceber uma ligação crucial entre a perda de 3 milhões de torcedores na temporada 1972-73 e o fato de que a média de gols havia chegado a um recorde negativo. Enquanto a revista talvez estivesse correta em perceber táticas mais sistematicas e previsivelmente defensivas como um desestímulo ao comparecimento regular, estava em campo bem menos seguro ao afirmar que o mero número de gols modelasse os níveis de presença de público. Em um certo momento, a revista comparava os 1160 gols marcados na 1ª. divisão em 1972-3 com os 1724 marcados na prolífica temporada 1960-1. Esquecia-se de mencionar, todavia, que 1960-1 assistiu à maior queda em um ano no público futebolístico do pós-guerra. Analisando-se a questão em uma perspectiva de longo prazo, não há de fato nenhuma relação direta entre os gols marcados e as médias de público. Os públicos alcançaram o auge na década de 1940 quando a média de gols não era tão alta quanto havia sido após a reforma da lei do impedimento em 1925. Então caiu durante toda a década de 1950, época em que a média de gols marcados na verdade subia temporada após temporada. Similarmente, no período 1966-70 e no pós-1986, os aumentos na presença de público ocorreram em épocas em que a média de gols marcados era relativamente baixa.

(187-8) Isto não é argumentar que os torcedores não tivessem senso crítico. Ao contrário, o público era geralmente baixo em jogos entre times fracos (quando os gols do time da casa vinham aos borbotões) e maior contra adversários mais fortes. O sucesso, todavia, era o principal objetivo e embora os torcedores preferissem que ele fosse alcançado através de um futebol maravilhoso e goleador, eles geralmente se contentavam com menos.

(188) Provavelmente a explicação em termos de oferta mais convincente se concentra no hooliganismo e nas mudanças concomitantes na cultura das arquibancadas. Como sempre, as coisas não são simples. Um aumento na atividade de hooligans já estava sendo notada em uma série de estádios londrinos, sobretudo no Chelsea, a partir do começo da temporada de 1967, em um tempo de aumento de público. Novamente, um certo número de clubes com más reputações em termos do comportamento dos torcedores, incluindo o Manchester United, tinham poucos problemas em manter seus níveis de público. Ademais, como discutiremos adiante, o problema dos hooligans não havia alcançado necessariamente a escala que algumas pessoas supunham. Entretanto, há muitos elementos a sugerir que o medo do hooliganismo em potencial juntamente com uma má vontade em relação a uma cultura das arquibancadas bem mais agressiva fosse um fator que levava à diminuição dos públicos. O testemunho oral destes torcedores que abandonaram os estádios, documentação que deveria ser coletada mais sistematicamente pelos historiadores, é significativa. A crescente proporção do público na faixa etária abaixo dos 20 também é vista pela maioria dos comentadores qualificados como uma prova de que os torcedores mais velhos estavam abandonando o que eles consideravam um ambiente menos prazeroso. Não há nenhuma dúvida de que a cobertura super-dramática da mídia desempenhou um papel importante em moldar a visão dos torcedores mais velhos, mas a realidade às vezes era realmente desagradável. Uma atmosfera ameaçadora no transporte público, a presença de um grande número de policiais e o canto de obscenidades em grande escala, o que muitos torcedores de classe trabalhadora tradicional consideravam totalmente ofensivo, afastavam torcedores dos estádios. O racismo aberto manifestado em muitos estádios também era um fator desagradável para muitos. Considerar as tendências após 1985 também pode lançar luz sobre estas questões. É certamente impressionante que os públicos tenham aumentado após 1986 à medida em que a questão do hooliganismo, ao menos no interior dos estádios, tenha se transformado em um problema cada vez menor. Além disso, este aumento do público começou nas divisões inferiores, sobretudo na 2ª., onde a atmosfera tem sido geralmente menos ameaçadora. A partir do início da década de 1970, no contexto das crescentes possibildades de escolha fora dos campos de futebol, o hooliganismo, tanto em termos de mito quanto em termos de realidade, era um fenômeno altamente danoso.

(188-9) É chegada a hora de investigar o tema do comportamento do público de forma mais detalhada. Desordens dentro dos estádios tinham gradualmente aumentado a partir do fim dos anos 50 e a FA foi levada a expressar alguma preocupação no fim de 1961. O problema não era visto como especialmente sério, entretanto, e a decisão do Everton de erguer grades de conteção atrás dos gols em 1963 surpreendeu a imprensa. Em 1967, todavia, o problema já era fonte de atenção e preocupação consideráveis. Na atmosfera de aumento da preocupação do público, formas irritantes mas relativamente inócuas de comportamento que antes eram toleradas, como cantar alto no meio da rua, esbarrões e gesticulação, podiam todas ser percebidas como “hooliganismo” e levar a expulsões e prisões. Dados os problemas de definição que isto origina, nenhuma tentativa vai ser feita de medir o “hooliganismo” durante este período a partir deste ponto do texto. Que baste dizer que tanto o repertório de comportamentos que adquiriu o nome de “hooliganismo” quanto o vigoroso debate público a respeito da sua natureza, causas e soluções foram características centrais da cultura futebolística a partir do fim dos anos 60.

(189) Escrever acerca do hooliganismo moderno é, no mínimo, problemático. O tema tornou-se, no dizer de um escritor, “quase um ramo menor das ciências sociais”, e, como a maioria desses ramos, abriga uma série de escolas de interpretação competindo e em conflito umas com as outras. Ao mesmo tempo, capturar a sua essência exige uma ação sempre equilibrada de confrontar o mito com a realidade, o “medo” manipulado e fabricado pela ordem pública versus o fenômeno tangível. Não há, por exemplo, nenhuma dúvida de que a escala do fenômeno foi exagerada por certos grupos por uma série de razões. Como resultado houve uma hiper-reação dentro da comunidade mais ampla. A visita do Manchester United a York em dezembro de 1974, por exemplo, praticamente fechou a cidade toda, com lojas erguendo barricadas de proteção. Alguns centros de cidades pequenas ficavam quase permanentemente paralisados durante os sábados à tarde, como se percebeu depois que a suposta ameaça diminuíu. Quando o Luton Town baniu os torcedores visitantes dos seus jogos em 1986-7, um shopping center local relatou um aumento de 40% nos consumidores e uma faculdade sentiu-se segura para reabrir suas portas. Mesmo esses medos exagerados, todavia, têm que ser levados em consideração e, na verdade, respeitados: medo do que poderia ser pode ser mais danoso do que a própria realidade, especialmente para certos grupos vulneráveis. Ademais, os problemas reais – batalhas campais entre torcedores rivais, invasões de campo, vandalismo dentro e fora dos estádios – existia de fato e podia ter consequências assustadoras. O que se segue é uma tentativa necessariamente breve de traçar os elementos principais do comportamento e da cultura “hooligan”, mas uma tentativa enraizada na aceitação do fato de que o “hooligan” é uma figura um tanto o quanto fugidia.

(190) Primeiramente, é extremamente difícil traçar uma divisão clara entre o “torcedor normal” e o “hooligan”. Somente uma pequena minoria, exemplificada por aqueles diretamente envolvidos nas chamadas gangues de “super-hooligans” ou “firmas” no início dos 80 é que adotaram a atividade de hooligan como seu objetivo de lazer predominante. Muitos hooligans eram na verdade torcedores comuns, engajados que eram atraídos à violência, seja real ou ritual, em determinados momentos mas que podiam afastar-se igualmente com a mesma facilidade. Havia um continuum no qual as pessoas se colocavam em diferentes estágios das suas vidas, em diferentes jogos e até em diferentes momentos do mesmo jogo. Um jovem embrulhado no seu cachecol a cantar posicionado atrás do gol que havia sido forçado a literalmente atravessar o centro da cidade correndo enxotado pela polícia montada juntamente com todos os outros “hooligans” podia ser um torcedor de verdade, desesperado para evitar confusão, mas agindo daquela forma em parte porque era o que se esperava dele. Alternativamente, “torcedores comuns” podiam engajar-se em comportamentos que embora não necessariamente definidos como “hooliganismo” eram quase certamente igualmente anti-sociais. O abuso racial, como os xingamentos racistas, imitação de símios e arremesso de bananas, que apareceram em meados da década de 1970 não eram (e não são) privilégio exclusivo dos hooligans.

(190) O estilo e o comportamento dos hooligans não permaneceram estáticos. Cada sucessiva geração adotava e/ou estabelecia um estilo de vestimenta distintivo. Os skinheads (carecas) predominavam no fim dos anos 60, mas pela metade da década seguinte as gangues da arquibancada se caracterizavam por cabelos longos, uso de sinalizadores e cachecóis embrulhando todos os membros possíveis [sem trocadilho, por favor!]. Nos anos 80, estilos mais espertos, menos conspícuos [i.e. que não chamavam tanta atenção], em parte exibição de moda, em parte uma tentativa de evitar a vigilância cada vez mais sofisticada da polícia, tornaram-se a norma, levando à alcunha de “soccer casuals” utilizada por e para definir várias gangues. A partir de 1979, alguns grupos começaram a adotar uma mentalidade virulentamente racista. Isto foi encorajado por organizações neo-fascistas que viram os terraces como um campo promissor de recrutamento após sua fracassada tentativa de progredir na eleição geral de 1979 [que elegeu Margaret Thatcher]. O nacionalismo extremista resultante já tinha se prenunciado quando torcedores ingleses começaram a viajar pela Europa seguindo seus clubes na década de 70. Ele tornou-se ainda mais aberto à medida em que, com as rivalidades inter-clubes temporariamente esquecidas, números significativos de jovens torcedores ingleses passaram a seguir a seleção no exterior a partir do início dos anos 80.

(190-1) A maioria dos comentaristas alega que a vasta maioria daqueles envolvidos no hooliganismo eram jovens brancos provenientes de forma desproporcional dos grupos sócio-econômicos 4 e 5 [classes mais pobres]. Um levantamento com 497 hooligans condenados feito em 1968 mostrou que 41.4% vinham de famílias de trabalhadores sem qualificação, com mais 22.5% de famílias de trabalhadores semi-qualificados, enquanto uma pesquisa da Leicester University com 519 indivíduos no período entre 1960 e a metade dos anos 80 revela um quadro quase idêntico. Muitas tentativas foram feitas de se explicar o hooliganismo a partir deste reconhecimento de que pertencer a um setor relativamente pobre e carente da classe trabalhadora tinha um efeito no comportamento, mas o significado deste perfil social é interpretado de diferentes maneiras.

(191) Um trabalho pioneiro importante feito pelos sociólogos Ian Taylor e John Clarke, ambos influenciados pela teoria marxista das sub-culturas muito em voga entre aqueles que estudavam as culturas jovens “desviantes”, tratavam o hooliganismo como um “movimento de resistência proletária”. Este enfoque enfatizava a novidade do hooliganismo e o via como uma tentativa consciente por parte de um setor carente da classe trabalhadora no sentido de reivindicar um esporte em que uma forte tradição de um público ativo e envolvido estava sendo crescentemente canalizada para formas passivas de consumo à medida em que a televisão e certos clubes de elite se articulavam para vender o jogo como espetáculo. Taylor e outros escritores dessa corrente, especialmente Stuart Hall, também enfatizavam até que ponto setores da mídia e do aparelho de Estado manipulavam a questão dos hooligans visando angariar apoio para programas políticos autoritários. As idéias centrais de alguns destes argumentos hoje em dia parecem bastante improváveis. A pesquisa histórica demonstrou até que ponto este tipo de interpretação exagerava a novidade do fenômeno dos hooligans e eventos subsequentes demonstraram que o “aburguesamento” do jogo era ainda muito incipiente em 1969. Isto coloca certa dúvida em termos da hipótese da “resistência”, ainda mais enfraquecida pela probabilidade de que muitos hooligans tenham sido atraídos para o futebol pela primeira vez durante a onda de entusiasmo que se seguiu à vitória inglesa na Copa de 66, e ingressaram no futebol sem muita idéia da sua história e da sua cultura própria. É bem mais provável que estivessem certos no que diz respeito ao uso do hooliganismo por parte de políticos de centro-direita e por determinados jornalistas. Acima de tudo, Taylor e outros pioneiros estudiosos desta área merecem um reconhecimento por terem feito uma tentativa de fornecer uma explicação racional para alguma coisa que a imprensa popular e as autoridades do futebol desprezavam com o uso fácil de expressões como “animais” e “bárbaros”.

(191-2) Mais recentemente, uma interpretação sociológica alternativa foi proposta por Eric Dunning e seus colegas da University of Leicester. Ao mesmo tempo em que rejeitam fortemente a noção do hooliganismo como um movimento de resistência, eles, também, enfatizam a origem social da maioria dos hooligans. Baseando-se na noção de “processo civilizador” associada ao trabalho de Norbert Elias, eles afirmam que os hooligans foram encontrados sobretudo em um estrato da sociedade que não adotou a “revolução dos costumes” que, desenvolvendo-se durante séculos, ensinou códigos de comportamento em que a ordem e o decoro ocupam um lugar de destaque. Eles argumentam sobretudo que o hooliganismo está estabelecido em uma “sub-cultura muito enraizada de uma masculinidade agressiva” que é predominantemente, embora de forma alguma exclusivamente, associada a homens das camadas mais pobres da classe trabalhadora. É uma sub-cultura que celebra noções muito estreitas, rígidas e exclusivas de localidade, comunidade e nação, noções que envolvem uma mistura ambivalente de desprezo e medo diante de alguém ou de algo que seja “diferente”, “estrangeiro” ou “estranho”. Em um sentido, portanto, os hooligans são vistos como pessoas que levam a um extremo a mentalidade típica dos torcedores.

(192) A “Leicester School”, cujo trabalho foi precariamente resumido aqui, tem sido extremamente influente nos últimos anos, embora alguns críticos, especialmente aqueles trabalhando no interior da tradição antropológica, tenham reivindicado que seu trabalho exagera os níveis de violência real efetivamente presentes e localiza o hooliganismo em um estrato social muito restrito.

(192) Existe, todavia, consenso entre estas escolas conflitantes em termos da questão da cobertura da imprensa. Embora seja tolo acusar a imprensa de criar o problema, a cobertura sensacionalista e uma tendência a focalizar mais o público (e seu mau comportamento) do que o jogo resultaram numa profecia autocumprida e no exagero da extensão do problema. A cobertura da imprensa britânica tem sido comparada desfavoravelmente com aquela existente em outros países. Em fins dos anos 60, por exemplo, setores da imprensa passaram rapidamente da celebração tradicional da amigável exuberância dos públicos ingleses à condenação histérica da cultura das arquibancadas. Isto deu ao jogo uma imagem negativa e despertou o interesse de pelo menos alguns outros jovens cuja propensão à violência poderia ter encontrado outros canais de expressão. A imprensa dinamarquesa, inversamente, escolheu celebrar a atmosfera carnavalesca e lamentar os incidentes de violência real. Eles cunharam o termo “roligan” para distinguir o barulhento mas pacífico torcedor do seu colega mais ameaçador. Isto teve a vantagem de inibir setores inteiros do público de serem classificados negativamente como hooligans e pode ter ajudado a limitar o problema da desordem. A imprensa britânica, em sua maioria sempre ansiosa por incorporar o hooligan no catálogo dos “demônios populares” jovens que pareciam refletir o declínio da fibra moral de uma nação pós-imperial, nunca davam uma chance a esta estratégia.

(192-3) Da mesma forma que a mídia, o mundo do futebol, com algumas exceções, mostrou pouca disposição em considerar o fenômeno do hooliganismo de forma equilibrada e racional. O problema era sempre atribuído “à sociedade”, como se o futebol existisse em um casulo apartado de tudo. “Hooligans”, sempre mal definidos, eram invariavelmente etiquetados como “adolescentes problemáticos” ou similares e aqueles que buscavam explicar seu comportamento eram depreciados como “estudiosos de cabeça” ou, ainda pior, “especialistas”. Aqui existia uma poderosa expressão do isolamento e do anti-intelectualismo que predominava nos órgãos adminstrativos do futebol. Talvez isso fosse apenas um reflexo de uma tendência mais ampla da sociedade inglesa de então. O establishment esportivo, todavia, parece ter sentido sua masculinidade ameaçada pela necessidade de participar de todo e qualquer tipo de agenda liberal.

(193) Lá pelo fim dos anos 80, o policiamento intensivo e altamente tecnológico, as políticas de segregação [separação] de torcedores e, acima de tudo, mudanças fundamentais na cultura dos terraces tornaram o problema bem menos frequente, ao menos no interior dos estádios ingleses. Talvez isso tenha sido bom para os acadêmicos assim como para o futebol. O hooliganismo provavelmente tomou mais tempo daqueles interessados em estudar o futebol contemporâneo do que qualquer outro tema. Por um lado, isso é bastante apropriado. A sub-cultura hooligan é em si mesma um importante fenômeno social, enquanto o seu impacto tanto no futebol quanto naqueles próximos aos estádios foi traumático e danoso. Por outro lado, tentativas de controlá-lo levaram a consideráveis embora infuficientemente reconhecidas questões relacionadas às liberdades civis individuais. Um bom número de jovens torcedores sem folha criminal e nenhuma intenção de ter uma, viram-se tangidos feito gado em meio a grupos forçados a trotar longas distâncias da estação de trem até os estádios por que eles tinham decidido apoiar seu time fora de casa. Em algumas das maiores operações policiais, os torcedores da casa que nem mesmo desejavam ficar no setor de arquibancada que o elemento “hooligan” mais jovem, mesmo assim eram revistados em busca de armas antes de entrar no estádio. Um sistema de cartão de identificação quase foi implementado no final dos anos 80 e o justo, tanto quanto o pecador, passaram a estar sob a vigilância do circuito fechado de televisão (câmeras de vigilância). O futebol era, naquele momento, tanto um espaço de conflito entre o Estado e um setor da jovem classe trabalhadora quanto um laboratório forçado para estilos de vigilância e policiamento que recebiam forte apoio de setores da sociedade favoráveis à lei e à ordem. Em todos estes sentidos, o fenômeno do hooliganismo estava bem perto do centro da cultura social e política da Inglaterra nesse tempo.

(193-4) Seja qual for a sua importância, o perigo é que nós percamos de vista o ponto fundamental de que os hooligans, mesmo frouxamente definidos, eram uma parte muito pequena do conjunto de várias centenas de milhares de pessoas que regularmente iam a jogos profissionais e de milhões de outros que acompanhavam o futebol. Por volta do início dos anos 80, o percentual de prisões efetuadas em jogos de futebol estava no nível muito baixo de pouco menos de 5 para cada 10.000 [ou seja, 10 pessoas para um público de 20 mil, por exemplo]. Obviamente, tais números não dão conta da atmosfera às vezes desagradável existente em algumas partidas ou os gestos, insultos e olhares desafiadores que eram produtos típicos da vida dos terraces desde o início dos anos 70. Da mesma forma, é preciso reconhecer que o problema dos hooligans no final do século XX era de dimensões mais significativas do que suas manifestações primeiras no final do século XIX e início do século XX. O enorme aumento do número dos que viajavam para jogos fora tornava isto quase inevitável. Não obstante, a maioria dos torcedores era totalmente inocente e não praticavam nenhum “crime” além de gritar e xingar, que sempre foram parte essencial da torcida ativa. Em muitos clubes, particularmente os das divisões inferiores, uma cultura hooligan era praticamente desconhecida, ou em uma escala que se tornava cômica, desde que suas erupções ocasionais pudessem ser evitadas. Mesmo nestes campos onde os “ends” [arquibancadas localizadas atrás do gol] eram mais lotados e mais voláteis, os jovens torcedores aumentavam o colorido e a atmosfera dentro da qual o jogo era praticado.

(194) A excessiva concentração no hooliganismo também obscurece o fato de que os estilos mais antigos de torcer, embora modelados em padrões modernos de cultura popular, existiram durante todo este período e temperavam os elementos mais agressivos da cultura das arquibancadas. O mais famoso exemplo é fornecido pelo famoso Spion Kop de Liverpool [parte da arquibancada atrás de um dos gols do Liverpool, o terrace mais famoso da história do futebol inglês]. Abrigando quase 30 mil torcedores debaixo de um teto que amplificava os níveis de barulho a um ponto amedrontador, o Kop tornou-se provavelmente o mais celebrado “end” do futebol mundial. Foi durante a temporada 1961-2 quando o clube estava subindo da 2ª. divisão que os torcedores começaram a desenvolver uma coleção de cantos ritmados que logo iriam tornar-se comuns entre os públicos da Inglaterra e, na verdade, da Europa. Em 1963-4, os koppites passaram a cantar músicas e versões de músicas do Merseybeat que dominavam a música popular britânica e norte-americana desta época. Em particular “You’ll never walk alone”, originalmente do musical Carousel, mas que havia sido regravada pelo grupo local Gerry and the Pacemakers no outono de 1963, tornando-se o hino do Liverpool e a maior canção inglesa de futebol. O Kop foi mitificado por Liverpudlians [pessoas que nasceram em Liverpool] e por forasteiros em busca de “autênticos” valores de classe trabalhadora. Ambos os grupos ignoravam suas características menos saborosas. Garth Crooks é apenas um doos jogadores negros que se lembra de ter sido xingado por alguns dos kopites e o Liverpool, assim como a maioria dos outros clubes maiores, tinha um grupo de hooligans da pesada. Acima de tudo, entretanto, durante todo o período, o Kop genuinamente parece ter sido um espaço de sagacidade, cor e espírito esportivo. É claro que não era o único lugar onde essas qualidades poderiam ser encontradas. O futebol só se recuperou da sua má reputação na imprensa nos anos 80 em boa parte graças a esta reserva de humor, paixão e comportamento apenas moderadamente rude.

[iii] The media (195-200):

[iv] Football as business (200-203):

[v] Football, politics and society (203-206):

[vi] 1985 – ‘Annus horribilis’ (206-208):

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