segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Esquema do texto 6: Russell, capítulo 2 (COMPLETO)

Esquema de

RUSSELL,Dave

(1997) Football and the English – A social history of Association Football in England, 1863-1915. Preston: Carnegie Publishing. Capítulo 2: The making of the national game, 1888-1914. pp. 30-54.

[i] Prólogo (30):

- (30) O futebol estabeleceu-se como um elemento importante da cultura esportiva entre 1875-85, mas cresceu dramaticamente nos vinte e cinco anos posteriores. O número de clubes filiados à FA passou de 1.000 em 1888 [era de apenas 50 em 1871] para 10.000 em 1905 e 12.000 em 1912. A final da FA Cup de 1888 teve 17.000 espectadores [2.000 em 1872] e 120.081 em 1913. A Football League começou com doze clubes e teve 600.000 espectadores na primeira temporada em 1888-9, em 1905-6 já tinha 20 clubes na primeira divisão e público de 5 milhões. Em 1913-4 o público subira para 8.778.000. Os clubes mais importantes atraíam públicos superiores a 5 mil para jogos de equipes reservas.

- (30) Uma indústria modesta mas em expansão estava ligada ao futebol: como se depreende dos anúncios da revista Sports Trader de 1912, havia pelo menos duas indústrias produzindo redes (de gol) em Bridport (Dorset), nas Midlands (centro da Inglaterra) havia duas fábricas especializadas na produção de roupas esportivas e pelo menos uma firma em Kettering (cidade especializada na produção de calçados) concentrava-se fortemente na produção de chuteiras de futebol.

- (30) Mas o exemplo mais exuberante do impacto do futebol está na natureza e no conteúdo da imprensa: a edição especial do jornal de futebol no sábado à noite, iniciada no início da década de 1880, agora era encontrada na maioria das cidades nos anos de 1890, enquanto o espaço dedicado ao futebol na imprensa crescera enormemente.

- (30) Seria impossível superestimar o impacto do futebol àquela altura em termos sociais, culturais e econômicos. Em 1875 o jogo era ainda basicamente para uma elite diletante (que dispunha de lazer); em 1914, estava no coração da cultura masculina da Inglaterra.

[ii] The game and its organization (31-34)

- (34) Neste período houve uma série de mudanças nas regras que aumentaram o apelo do jogo junto aos espectadores, ou por tornar o jogo mais aberto ou por diminuir a incerteza quanto às decisões dos oficiais.

- (34) As redes tornaram-se obrigatórias em 1892, diminuindo a disputa em torno da ocorrência ou não do gol;

- (34) No início não havia um juiz e sim dois umpires, um apontado por cada lado, a quem os jogadores apelavam quanto ao que ocorria em campo [ou seja, os jogadores tinham que reclamar a marcação de uma falta, cabia aos umpires decidir, um de cada lado do campo]. Em 1871 é introduzido um árbitro neutro (referee, o nosso “juiz”) que passava a resolver (do lado de fora) as disputas entre os umpires. Em 1891 o árbitro passou a ficar dentro do campo e em 1894 passou a ter o controle do jogo, tendo os umpires virado bandeirinhas (linesmen). Com isso diminuíam as interrupções e atrasos que causavam irritação aos espectadores e jogadores.

- (34) em 1891 foi introduzido o pênalti, irritando profundamente os amadores, para quem a nova legislação presumia que os jogadores fossem capazes de “roubar”. Ainda no século XX havia times de “old boys” que se recusavam a bater pênaltis.

- (34) Em 1912, o goleiro, que até então podia pegar a bola com as mãos até o meio-campo, agora só podia fazê-lo no interior da grande área.

- (34) Em termos táticos, no fim da década de 1880 a maioria das equipes havia adotado uma formação básica 2-3-5 (2 full backs, 3 half back e 5 forwards). Em 1914 o jogo ainda era bastante “físico”, mas já reconhecível por um observador moderno.

- (34-5) O estabelecimento da Football League em 1888 foi extremamente importante para o desenvolvimento do futebol profissional. A Liga era basicamente um mecanismo pensado pelos clubes mais importantes para proteger seu considerável investimento em termos de capital e gastos com recursos humanos. Antes de 1888, os clubes jogavam vários torneios tipo copa [i.e. estilo “mata-mata”, eliminatórios] e um grande número de “amistosos”. Não era um sistema que proporcionasse estabilidade: nas copas uma eliminação precoce tinha consequências financeiras desastrosas e muitas vezes os confrontos eram tão desequilibrados que tornavam-se pouco atrativos (e.g. Preston North End 26x0 Hyde em 1887). Ao mesmo tempo, amistosos eram cancelados caso uma proposta mais interessante surgisse [ou o time avançasse inesperadamente em uma copa].

- (35-6) A Football League foi formada por iniciativa de um comerciante de tecidos que fazia parte do comitê do Aston Villa, William MacGregor. Em 17 de abril de 1888, em Manchester, um grupo de 12 clubes (dentre os melhores do país, Russell chega a falar em “controle de qualidade”) concordam em criar uma competição [por pontos corridos, ida e volta, todos contra todos]. Preocupados com a segurança financeira, levaram em conta não somente o aspecto técnico, mas também a escolha de clubes capazes de atrair grandes públicos (e rendas). A região da indústria têxtil do Lancashire e as Midlands forneceram a maioria dos clubes, que foram os seguintes: Preston North End, Aston Villa, Wolverhampton Wanderers, Blackburn Rovers, Bolton Wanderers, West Bromwich Albion, Accrington, Everton, Burnley, Derby County, Notts County e Stoke.

- (33) De início houve problemas de organização: o Accrington chegou uma hora atrasado para seu primeiro jogo (contra o Everton) e o Stoke chegou ao campo do Preston North End com apenas 9 jogadores, pois um perdera o trem e outro fora contratado por outro clube durante a viagem.

- (34) Apesar disso, embora a FA Cup ainda fosse vista como “o campeonato do futebol inglês”, o campeonato da Football League foi visto como um sucesso considerável. Tanto que logo outras ligas foram formadas, copiando o sistema, uma delas, a Football Aliance, incorporada como 2ª. divisão em 1892. Em 1905 a Football League já tinha 40 clubes. No fim do século XIX o país todo estava dividido em ligas, profissionais, semi-profissionais e amadoras, provendo uma estrutura competitiva que seria fundamental para a expansão do futebol.

- (34) Claro que havia competição (nem sempre limpa) entre as diferentes ligas, com a Football League tomando uma atitude firme de boicotar as ligas que jogavam sujo, contratando jogadores e se recusando a pagar taxa de transferência. Dez clubes, sobretudo mas não somente baseados em cidades pequenas, tiveram que renunciar à Football League antes de 1915 devido a problemas monetários. Isto aconteceu sobretudo (mas não somente) na década de 1890, quando ainda estava havendo a delicada montagem de uma infra estrutura financeira. De qualquer forma, a liga havia demonstrado ser uma estrutura viável e com credibilidade.

[iii] The national game: the geography of soccer (35-38)

- (35) Duas características marcantes das mudanças na distribuição espacial do futebol entre 1885-1914: a crescente penetração em antigos bastiões do rugby, especialmente (mas não somente) no norte da Inglaterra, e o crescimento do futebol profissional no sul. Exemplo do primeiro processo no distrito têxtil de West Yorkshire (Bradford, Leeds, Halifax, Huddersfield).

- (35-6) A que atribuir esta expansão do futebol? Em certa medida às vantagens apontadas no capítulo 1 em termos estruturais para o público. Além disso o rugby projetava uma imagem elitista e conservadora na Rugby Football Union (a mais antiga) e tinha problemas organizacionais e financeiros na Northern Union (criada em 1895, para acomodar o profissionalismo). Muitos clubes haviam trocado de associação de rugby e a Northern Union havia mudado as regras na esperança de atrair, mas acaba confundindo os espectadores.

- (36) Três fatores importantes para explicar a crescente penetração do futebol:

i. O papel da educação estatal: esportes de equipe passaram a complementar as aulas de educação física (antes somente de exercícios) por volta de 1880 e em meados de 1890 o futebol era o preferido entre os esportes de inverno. Suas vantagens: regras relativamente simples; podia ser jogado em superfícies duras como aquelas de muitas escolas sem campos gramados; era mais conveniente e comparativamente seguro para jovens mal nutridos e subdesenvolvidos fisicamente encontrados nas escolas públicas [não é tradução de public schools, que eram escolas privadas]. Assim as escolas tornam-se semeadoras da expansão do futebol no final do século XIX e início do XX.

ii. Segunda força de “nacionalização” reside na imprensa: jornais nacionais, jornais esportivos como o Athletic News (1875) e jornais locais fizeram muita propaganda do jogo (e.g. Bradford, onde o estabelecimento do futebol profissional em 1903 deve-se em grande parte ao correspondente de futebol do Yorkshire Sports Saturday special.

iii. Iniciativas astutas da Football League no sentido de encorajar o desenvolvimento do futebol em áreas antes tradicionalmente ligadas ao rugby, admitindo clubes modestos (Woolwich Arsenal) e até ainda em formação (Leeds City e Hull City).

- (36) Embora o rugby ainda tenha se mantido forte em algumas áreas, por volta de 1914 e talvez já em 1906, o futebol já havia se estabelecido como o esporte nacional de inverno.

- (37) Popularidade crescente do futebol no sul da Inglaterra. Popularidade retardada pela forte oposição ao profissionalismo em algumas associações do sul. O Arsenal foi o primeiro time profissional em 1891, depois seguido pelo Millwall e pelo Southampton. Em 1914, havia apenas 6 clubes dentre os 40 clubes da Football League [15%].

- (37) Mas na verdade já havia uma forte cultura futebolística no sul, particularmente em Londres, com competições oferecidas pela Southern League que, embora com um nível inferior às da Football League, proporcionavam um certo número de confrontos atrativos, permitindo ao mesmo tempo poupar despesas de transporte.

- (37-8) Alguns clubes do sul, sobretudo os de Londres, tinham torcida numerosa. Mesmo antes de entrar na Football League, o Fulham (FL em 1907) e o Tottenham (FL em 1908) atraíam públicos de mais de 20.000 para algumas partidas, o que era superior a alguns clubes da 1ª. divisão da Football League. Em 1913-4, os dois clubes com mais público na F.L. eram o Chelsea (média de 37.105, tendo ficado em 8º. Lugar no campeonato) e o Spurs (média de 28.020 tendo ficado em 17º. Lugar). O Chelsea foi o time com maior média de público em 5 de 8 temporadas entre 1907-8 e 1914-5, incluindo 1909-10 quando caíram para a 2ª. divisão.

- (38) Ou seja, embora os melhores times em termos de resultados ainda fossem encontrados no núcleo inicial do futebol (norte da Inglaterra), o futebol havia estabelecido um público de massa na capital, onde a sua grande vantagem em termos de população estava afinal se fazendo sentir.

[iv] Football’s personnel (38-52)

i. Administrators (38-42)

- (38) Afora a colaboração diante de um inimigo comum como no caso do sindicato dos jogadores, a FA e a Football League (doravante FL) sempre tiveram uma relação marcada pela tensão e pelo conflito. A FL aceitava a posição da FA como órgão geral do futebol inglês, mas defendia ferrenhamente a autonomia na sua esfera. A FA, por sua vez, aceitava a relativa autonomia da FL mas mantinha uma pressão constante no sentido de minimizar o elemento comercial no futebol da FL e no futebol profissional em geral. Havia também divisões internas, já que havia um número crescente de dirigentes compartilhados pelas duas associações. Mas podiam perceber-se claras diferenças em termos de filosofia e culturas.

- (38-9) A FA estava particularmente ansiosa para controlar o sistema de transferência de jogadores que seus membros consideravam desagradável, envidando muitos esforços nesse sentido entre 1899 e 1904. Quando ocorre a primeira transferência a alcançar 1.000 libras em 1905, a FA tenta impor um teto de 350 libras para todas as futuras transferências. Mas isso prova-se impossível de fiscalizar e o esquema é abandonado em 3 meses.

- (39) A FA também tentou controlar salários e bonificações, impondo um teto salarial e banindo as bonificações em 1900, inicialmente contra a vontade da maioria dos clubes.

- (39) Outras medidas da FA contra a comercialização: restrição dos dividendos dos clubes a 5% a partir de 1896, forte condenação às apostas em jogos de futebol e uma campanha determinada no sentido de relembrar aos profissionais o seu papel em uma relação entre senhor e servidor (ou servo).

- (39) Neste último sentido, seu comportamento dentro e fora do campo era vigiado: ainda em 1923, Charles Buchan, um profissional que era capitão do selecionado inglês em um jogo contra a França, foi repreendido por ter feito o aparentemente desrespeitoso gesto de apertar a mão de um companheiro amador da sua equipe. Buchan também lembrou que o funcionário da FA recusou-se a pagar os jogadores as suas despesas até que estivessem a salvo no navio que os levaria para casa, informando Buchan que “estou determinado que eles cheguem em casa com dinheiro no bolso”.

- (39) Embora o conflito entre a FA e a FL não possa nunca ser reduzido a uma simples questão de um conflito entre uma elite sulista (composta de nobres e profissionais liberais) versus uma classe de homens de negócios (incluindo industriais e comerciantes) do norte e do centro da Inglaterra, as diferenças sociais nestes termos sempre estruturaram a relação entre os dois órgãos.

- (40) Pelo menos até certo ponto, as diferenças filosóficas e práticas entre estes dois órgãos baseavam-se nesta diferente origem social. A vontade apresentada pela FL de abraçar ao menos alguns valores e procedimentos da indústria profissional do lazer deriva da cultura competitiva e orientada para os negócios das suas figuras mais importantes. Por sua vez, a ênfase da FA no serviço prestado à comunidade mais ampla e a sacralização de valores esportivos mais amplos refletia os costumes da classe dos profissionais liberais e seus aliados.

- (40-1) As tentativas da FA no sentido de restringir o impacto da profissionalização e da comercialização do jogo não foram suficientes para satisfazer uma minoria de amadores descontentes (sobretudo no sul). A abolição das restrições em termos de residência em 1889 foi uma medida que desagradou muito a este grupo. Em julho de 1907 eles rompem com a FA para fundar a Amateur Football Association que conseguiu recrutar 500 clubes, embora a maioria tenha permanecido leal à FA, que inteligentemente proíbe os clubes a ela filiados de jogarem com os filiados da AFA. Sobretudo os clubes amadores do norte e do centro da Inglaterra, não demonstraram nenhuma inclinação para apoiar a dissidência.

- (41) Embora a dissidência não tenha ido longe, com a AFA voltando ao seio da FA em 1914, este incidente demonstra a força que o ideal do amadorismo continuava a representar. É possível que parte do apelo do amadorismo emanasse da preocupação sentida em círculos da elite sulista acerca do desafio crescente à sua posição pela emergência de forças sociais progressistas, na forma do Partido Trabalhista e do novo Liberalismo. A eleição de um governo liberal em 1906, que levaria a cabo uma agenda cada vez mais radical de reformas depois de 1908, só pode ter aumentado estas preocupações. “A defesa intransigente do amadorismo era, ao que parece, enraizada em algo mais profundo do que simplesmente a arena esportiva, muito da sua força derivando do seu valor político como uma rejeição simbólica de elementos pouco atrativos da cultura de massas e, portanto, da democracia de massas.”

- (41-2) Este processo de dissidência também permite reavaliar a FA e seus dirigentes de forma mais positiva do que a habitual. Afinal, embora a FA sem dúvida tenha imposto barreiras no caminho da comercialização do jogo e tenha ajudado a manter claras distinções de classe no interior do jogo, a extensão da reação contra ela, especialmente em 1905-7, demonstra que posições bem mais radicais eram possíveis, e que elas foram enfrentadas com sucesso.

ii. Directors (42-45)

- (42) De início os clubes eram organizações voluntárias compostas por membros votantes e dirigidas por comitês. As exigências financeiras geradas pelo crescimento da renda das bilheterias e o profissionalismo, todavia, levaram à transformação dos clubes principais em companhias limitadas. Small Heath, que depois virou Birmingham City foi provavelmente o primeiro clube a fazer esta mudança já em 1888 e em 1921, apenas dois dentre 86 clubes da FL não haviam feito isso.

- (42) As pesquisas pioneiras de Mason, Tischler e Vamplew revelaram que havia um número bem maior de trabalhadores especializados e pequenos comerciantes com shares (ações neste caso não-negociadas na Bolsa de Valores) dos clubes do que era esperado. Este era o caso sobretudo em clubes relativamente pequenos ou que estavam em um estágio inicial de desenvolvimento.

- (42) Ao mesmo tempo, parece que os acionistas da classe trabalhadora detinham um número muito pequeno de ações, que valiam apenas como uma demonstração de apoio ao clube e não como um instrumento para tentar participar das decisões. Para Vamplew, antes de 1915, os trabalhadores manuais eram 38% dos acionistas mas detinham apenas 17% das ações.

- (42) A maioria dos acionistas e, sobretudo, a grande maioria dos que se tornaram diretores, vieram de origens mais privilegiadas, com apenas 20% dos diretores vindos da classe trabalhadora.

- (42) Quais os motivos que levaram membros das classes médias e altas a participar das diretorias de clubes de futebol? Essa é uma questão que tem gerado considerável especulação acadêmica, por potencialmente iluminar o papel e a função das elites locais e seus relacionamentos com as classes sociais subordinadas.

- (42) À época, acreditava-se que o motivo era basicamente “inocente”, não havendo desejo de recompensa além do sucesso do clube e, consequentemente, do esporte. Em favor dessa hipótese, não se pode negar que muitos diretores eram verdadeiros entusiastas do futebol, ansiosos para reter o envolvimento com o esporte que eles haviam praticado ou assistido durante a sua juventude.

- (42) O sucesso do clube também era visto como uma oportunidade de serviço cívico, uma chance de fortalecer a reputação da cidade e de acertar as contas com as comunidades rivais vizinhas.

- (42-3) Mas Russell acha que seria ingênuo da parte dos historiadores caso eles não procurassem por motivos mais egoístas. Até que ponto o desejo de ganho financeiro era um incentivo? Com os dividendos limitados a 5% (7,5% após a I GM), as oportunidades de ganhos diretos significativos eram bastante restritas. Muitos clubes eram capazes de pagar um dividendo regular razoável, mas a maior parte do lucro era absorvido na manutenção de reservas financeiras, transferências e, acima de tudo, melhorias no campo (e no estádio).

- (43-4) Possibilidades de ganhos indiretos eram provavelmente mais substanciais. Há provas de que empresários do ramo da construção, comércio de comida e bebida utilizavam a diretoria dos clubes para conseguir-lhes contratos; apenas o Newcastle United proibiu isto. Em certas ocasiões, os diretores agiam claramente tendo em vista seus interesses. Em 1903, por exemplo, os fabricantes de cerveja da diretoria do Manchester City votaram contra os planos de mudança do campo, pois esta prejudicaria a venda de bebidas em dias de jogos nos seus estabelecimentos; a mudança acabou ocorrendo.

- (44) Tischler também sugere que o tino comercial dos diretores permitia-lhes conseguir lucros e escondê-los. Russell acha que fica difícil provar isso e acha pouco convincente. A figura do diretor corrupto é um estereótipo clássico da ficção esportiva no século XX, mas a suposição é uma péssima substituta para a documentação.

- (44) Afinal, suposição não-documentada por suposição não-documentada, poderíamos aceitar a afirmativa repetidamente feita pelos diretores de que eles invariavelmente gastavam mais com o clube do que recebiam do mesmo.

- (44) Um exemplo, embora extremo, é o caso de William Sudell no Preston North End, que foi aprisionado por 3 anos em 1895 por desfalcar seus empregados em cinco mil libras (em um período de 5 anos), grandemente, ao que parece, para aumentar os recursos do clube.

- (44) Conclusão: em geral a busca do lucro, seja em benefício de indivíduos ou do clube, não era uma preocupação fundamental dos diretores de futebol da Inglaterra vitoriana e eduardiana [até antes da I GM].

- (44) Uma segunda área que merece análise é a possibilidade de que os diretores usassem o futebol como um mecanismo para exercer influência político-partidária e, talvez ainda mais como um mecanismo de controle social. Há provas indubitáveis de que indivíduos utilizaram a diretoria de clubes de futebol para fins políticos. O caso mais notável diz respeito ao Middlesbrough, cujo diretor-chefe (chaiman) foi candidato às eleições gerais em 1910, não somente tendo recrutado jogadores para discursarem ao seu favor em comícios, mas tentou subornar jogadores do rival Sunderland na esperança de que uma vitória em um clássico local importante aumentasse suas chances eleitorais. Ele não só perdeu a eleição como foi banido para sempre do futebol.

- (44-5) Este é um caso extremo e os acadêmicos normalmente estão pensando em algo mais sutil em termos do potencial do jogo para influenciar as atitudes sociais e políticas. Tischler, por exemplo, vê o jogo em parte como uma válvula de escape, permitindo aos espectadores por para fora energias e paixões potencialmente subversivas; e de outra parte como um mecanismo de incorporação da cultura popular por grupos de elite. Embora este autor tenha sido pouco específico sobre a natureza dos valores ‘aprendidos’ através do futebol profissional, ele argumenta que ‘o esporte que cativava milhões de operários também incorporava e institucionalizava os princípios de organização social que eram a base da hegemonia burguesa. O estabelecimento de tais relações parece ter compensado o lucro de apenas 5%.’ Dunning e Sheard também argumentaram que o rugby e o futebol deveriam ser vistos como “um veículo de controle social’.

- (45) Análise do autor: área em que a comprovação é difícil. Mas parece perfeitamente razoável pensar assim; afinal muitos socialistas desse período eram altamente críticos do esporte profissional precisamente por conta das oportunidades que ele fornecia para os empregadores de desviar as classes trabalhadoras dos seus ‘verdadeiros’ interesses políticos e econômicos.

- (45) Crítica: esta visão, todavia, apresenta uma versão bastante conspiratória do processo histórico. Além de postular uma passividade da classe operária que subestima sua capacidade de pensamento crítico e ação independente, também sugere uma classe dominante agraciada com um objetivo e um programa com uma coerência maior do que era o caso. Seria tolo negar que os diretores estavam conscientes do alcance dos benefícios políticos derivados do envolvimento com o esporte, mas é melhor perceber isto como apenas um dentre um amálgama de fatores motivadores que encorajavam o envolvimento nas diretorias dos clubes de futebol, nem todos plenamente articulados ou sequer compreendidos pelas partes envolvidas.

- (45) Resposta: Os indivíduos conseguiam uma série de benefícios e prazeres com seu papel de diretores, e é talvez neste nível que a raiz da motivação deva ser buscada. O desejo, especialmente por parte de homens mais velhos, de envolverem-se não somente com o esporte, mas com toda a cultura da masculinidade jovem era provavelmente uma atração poderosa. Novamente, é verdade que simples o exercício de poder tinha suas recompensas para alguns, enquanto para outros ele proporcionava status e prestígio negados a eles em outras áreas da vida pública. Algumas destas coisas poderiam por sua vez conferir benefícios políticos, mas muitos indivíduos estavam contentavam-se simplesmente em desfrutar dos prazeres e deleitar-se com o sentido de importância que um lugar na diretoria parecia (e parece) proporcionar.

iii. The Professional Footballer (45-52)

- (45) Em 1914 o sindicato dos jogadores afirmava existirem 4.740 jogadores profissionais na Inglaterra, em 158 clubes. A despeito da presença de um pequeno e cada vez mais reduzido número de amadores excepcionais, estes profissionais declarados formavam a elite do jogo inglês, a espinha-dorsal do futebol de clubes e da seleção.

- (46) Qual era a sua origem social? A documentação a este respeito é escassa, mas a pesquisa de Mason sugere que ‘a primeira geração de jogadores profissionais era grandemente proveniente dos quadros do trabalhadores manuais qualificados’.

- (46) Estes homens escolhiam uma carreira que oferecia para os melhores e com mais sorte recompensas consideráveis do ponto de vista financeiro, social e emocional. Por outro lado, impunha crescentes restrições ao comportamento individual e à mobilidade e poderia ser cruel para aqueles que não alcançavam o padrão requerido, ou que sofriam contusões em uma época em que a medicina (pelos nossos padrões) era bastante primitiva.

- (46) Os profissionais da FL operavam sob um código trabalhista feito em parte para manter níveis razoáveis de igualdade entre os clubes e d’outra parte para controlar os custos com a mão-de-obra.

- (46) Neste sentido foi crucial o rápido estabelecimento do “sistema de retenção e transferência”, plenamente em vigor em 1893. Inicialmente a FL pretendia que um jogador só poderia representar um clube por temporada, mas isso foi logo modificado para permitir a transferência entre os clubes. Compensação na forma de uma taxa de transferência (tecnicamente uma taxa que comprava o documento de registro) logo se tornou a norma. Os jogadores não poderiam ingressar no novo clube, todavia, sem a permissão do seu clube atual, uma restrição aumentada pelo fato de que a liga apoiava o direito do clube manter os serviços exclusivos de um jogador caso fosse do interesse do clube. A FL opôs-se ferozmente à liberdade contratual, argumentando que ela permitiria que alguns poucos clubes mais ricos recrutassem os melhores jogadores; os clubes tinham que ser capazes de segurar os jogadores para que pudesse existir uma competição equilibrada e, consequentemente, economicamente viável.

- (47) No final do XIX, restrições salariais também haviam sido implementadas. Não há informações suficientes sobre os salários dos jogadores nas décadas de 1880 e 1890. Nem mesmo sabemos com certeza quantos jogadores eram profissionais de tempo integral. Temos documentação esparsa sugerindo que por volta do início da década de 1890 os profissionais de tempo integral eram minoritários e que ganhavam por volta de três libras durante a temporada e duas durante as “férias”.

- (47) Um pequeno número de “estrelas” conseguia salários mais altos. Nick Ross, do Preston North End no fim da déc. 1880, transferiu-se para o Everton em 1888 para ganhar 10 libras por semana.

- (47) Obviamente havia também estímulos [luvas] para assinar com novos clubes (teoricamente dez libras era o máximo a partir de 1891) e vários sistemas de bonificação. Um pequeno número de jogadores de destaque poderia aumentar sua renda a partir do seu (modesto) cachê para jogos especiais e partidas internacionais e através de atividades especiais que incluíam a propaganda de produtos como “OXO” [sabão em pó], as marcas de cigarro mais importantes e vários bálsamos, bem como escrevendo (ou apenas assinando) colunas de futebol na imprensa.

- (47) Em tal cultura, o empresário de futebol fez sua aparição, mediando acordos entre jogadores e clubes por uma módica taxa. Um observador acredita que esta profissão estivesse somente na sua infância em 1891 e as restrições salariais, bem como a hostilidade da FA, para quem o lucro privado do empresário violava os princípios do jogo, impediam que alcançasse a maturidade nesse período.

- (47) Um certo número de clubes com menos recursos ficou cada vez mais preocupado com a escalada dos salários na década de 1890 e houve muito debate acerca dos benefícios do teto salarial. Em 1893 os clubes da FL efetivamente aprovaram este mecanismo, mas a maioria de 3/4 necessária para efetuar essa mudança não foi alcançada. Na verdade foi a FA que introduziu o teto salarial de 4 libras em 1900, ansiosa para exercer sua influência sobre a FL e preocupada que os altos salários pudessem mostrar-se nefastos para a boa esportividade. A mesma reunião também aprovou a proibição do “bicho” (bônus por partida). Um certo número de clubes mais ricos inicialmente tentou resistir à medida, mas ela foi introduzida à tempo para a temporada 1901-2.

– (47) Como compensação parcial, os jogadores ganharam o direito a uma pensão em caso de aposentadoria por acidente ou contusão, depois de cinco anos de serviço.

- (47) Por volta de 12 a 15% dos jogadores recebiam o máximo em 1914, quase todos na FL e na Southern League.

- (47-8) Mais uma vez, a introdução de condições restritivas logo estava sendo justificada em termos de manutenção de uma competição equilibrada e da limitação do poder dos clubes mais ricos. Para estes, a militância dos jogadores na década seguinte acabou por convencê-los e a oposição ao teto salarial cessou.

- (48) A oposição também diminuíu porque os clubes encontraram meios de burlar o sistema visando premiar seus jogadores mais importantes. As restrições à bonificação foram decerto ignoradas, e alguns clubes pagavam aos seus principais jogadores bem acima do teto. Glossop, Manchester City, Middlesbrough e Sunderland não conseguiram esconder seus esquemas e foram punidos pela FL entre 1904-7. No caso do Manchester City a evasão assumiu tal escala – jogadores principais recebendo seis libras e dez shillings por semana mais bicho por vitória e empate – que todos os diretores foram obrigados a renunciar, o secretário e o manager foram suspensos sine die de todas as atividades relacionadas ao futebol e 17 jogadores foram suspensos, multados e proibidos de jogar pelo clube novamente.

- (48) O quanto os jogadores trabalhavam para ganhar seu salário variava de acordo com o regime de cada clube. A maioria dos clubes treinava todo dia de semana no tranquilo horário de 10 até a hora do almoço, com algumas sessões ocasionais à tarde e à noite. O treinamento consistia de várias combinações de saltos, piques, caminhadas fortes, trabalho com pesos, DUMB-BELLS e prática com bola. – (48-9) É interessante notar que desde os primórdios do jogo inglês, alguns comentaristas reclamavam que os jogadores não eram estimulados a desenvolver sua habilidade com a bola.

- (49) Era um regime de treinamento que se prestava à sátira. Arnold Bennett sublinhava que antes de jogos importantes os clubes normalmente levavam os jogadores para uma estação de águas, longe, bem longe de qualquer pub (isso era chamado de “treinamento”).

- (49) Em termos do no. de jogos por temporada, jogadores regulares podiam certamente sofrer uma carga pesada, especialmente se haviam assinado com clubes que gostavam de amistosos e tours no final da temporada, presumivelmente para fazerem um dinheiro extra. Millwall, Derby e Aston Villa jogaram 65, 58 e 56 jogos respectivamente em 1895-6, enquanto o Everton jogou 17 partidas em 25 dias em abril da mesma temporada.

- (49) A política de cada clube em termos das necessidades extra-campo dos seus jogadores variava dramaticamente, mas muitos parecem ter adotado estratégias bastante paternalistas em termos do fornecimento de seguro e assistência financeira a jogadores contundidos.

- (49) Em comparação com o restante da força de trabalho manual de onde eles havia vindo, os jogadores profissionais geralmente desfrutavam de um estilo de vida bastante confortável.

- (49) Apesar disso eles não estavam imunes aos problemas que afligem a classe trabalhadora em geral: acidentes de trabalho eram sérios, enquanto as doenças que atingiam os pobres geralmente alcançavam os jogadores antes que seu melhor padrão de vida e sua condição atlética superior pudessem ajudar. Nick Ross, citado anteriormente, desfrutou apenas brevemente da sua transferência para o Everton, pois o ex-colocador de telhas morreu de tuberculose em 1891, com apenas 31 anos.

- (49) As vantagens, todavia, eram claras: muitos jogadores ganhavam bem mais do que o teto de duas libras por semana que mesmo os trabalhadores mais qualificados raramente ultrapassavam, enquanto os benefícios em caso de sucesso poderiam fornecer uma valiosa ajuda contra a pobreza no resto da vida.

- (49) Os jogadores também eram beneficiados com o privilégio de uma rotina de trabalho flexível, alta satisfação com o emprego e uma posição de considerável respeito junto à comunidade local.

- (49) Incidentes verdadeiros e alegados de partidas “arranjadas” eventualmente levantavam dúvidas quanto à probidade do jogador profissional, mas por volta de 1915 sua respeitabilidade era bem maior do que a que alcançara no final do XIX.

- (49-50) Não está claro se eles conseguiam manter estes diferenciais de padrão e qualidade de vida quando vinha a aposentadoria. Alguns (talvez a maioria) indubitavelmente retornava à sua ocupação anterior ou a algo próximo dela, enquanto outros, provavelmente um grupo menor, sofria uma radical melhora ou piora em termos de mobilidade social. Os anais de muitos clubes incluem pelo menos um jogador que no fim da vida tinha que pedir auxílio ao clube, enquanto no outro extremo, uma minoria significativa de indivíduos conseguia ter pubs ou lojas e ascender à segurança relativa da classe média baixa. Poucos ex-jogadores, todavia, terminavam seus dias como homens ricos.

- (50) Em termos gerais, o quadro desenhado aqui sugere que, antes de 1914 e na verdade ainda por muito tempo depois disso, o profissional de futebol permanecia em boa medida como parte da comunidade de classe trabalhadora tanto durante quanto depois da sua carreira.

- (50) Dados os muitos problemas enfrentados pelos jogadores e o crescimento geral dos sindicatos na sociedade britânica a partir do final da década de 1880, não é surpresa que tenham sido feitas tentativas para sindicalizar os jogadores. Depois de duas breves tentativas, somente em dezembro de 1907 é que um sindicato permanente apareceu na forma da Association Football Players’ Union, liderado por Charlie Roberts do Manchester United.

- (50) A aprovação do Trades Disputes Act em 1906, que melhorou os direitos legais dos sindicatos, foi um incentivo crucial aqui, embora seja possível que alguma inspiração tenha vindo da greve dos artistas de music hall no início de 1907, a qual demonstrara que trabalhadores de uma ocupação isolada e individualista poderiam ser mobilizados.

- (50) Buscando reformar o sistema de transferências e a teto salarial, bem como lutando pela indenização por acidente de trabalho sob o Workmen’s Compensation Act de 1906 e por uma gama de outros benefícios típicos de entidades beneficentes, a AFPU inicialmente recrutou em bom número.

- (50-1) Ela era certamente forte o bastante para deslanchar uma confrontação com as autoridades do futebol em 1909. A FA, apoiada pela FL, era particularmente hostil ao desejo da AFPU de afiliar-se à General Federation of Trade Unions e em certo momento exigiu que os jogadores saíssem da federação sindical ou teriam seus registros cancelados. Uma greve de jogadores parecia possível, mas um acordo foi fechado em agosto, pelo qual o sindicato dos jogadores aceitava trabalhar sob as condições da FA em termos de salários etc, desde que a FA reconhecesse o direito do sindicato de recorrer à lei em caso de questões contratuais. Mesmo assim, a FA recusou-se a reconhecer esse direito a não ser que o sindicato aceitasse não se afiliar à federação sindical. Uma votação no sindicato dos jogadores aceitou esta restrição imposta pela FA por 470-172 votos.

- (51) O sindicato continuou a funcionar até 1915, embora suas finanças fossem seriamente enfraquecidas após a derrota no caso Kingaby em 1912, um caso modelar contra o Aston Villa visando desafiar o sistema de retenção e transferência. O corpo de associados encolheu de um pico de 1300 em 1908 para talvez 400 em 1915. Uma ata de abril de 1915 registrando que ‘expressões de lamentação foram feitas acerca da falta de interesse demonstrada pelos jogadores a respeito do seu próprio bem-estar’, capturando bem o clima existente.

- (51-2) No período a partir de 1907 o sindicato claramente teve algum sucesso em casos individuais e, embora quase tenha deixado de existir durante a guerra, o sindicato estabeleceu uma estrutura permanente para o sindicalismo do profissional de futebol.

- (52) Ironicamente, todavia, um resultado importante dos seus esforços pode ter sido a unificação do establishment contra o sindicato e contra a reforma do sistema de retenção e transferência e o teto salarial, acabando por criar um clima mais problemático para as relações de trabalho dentro do futebol.

- (52) Em termos gerais, os eventos de 1912-15 mostram o desequilíbrio em termos da balança de poder entre “capital e trabalho” no futebol. Eles também sublinham a magnitude do problema enfrentado por aqueles que buscavam sindicalizar um grupo de trabalhadores que eram geograficamente diversos, razoavelmente bem-pagos, certamente em termos do grau de satisfação com o trabalho que Vamplew se refere como “remuneração psíquica”, e que geralmente estavam desesperados para não prejudicar a sua chance de sucesso em uma carreira notoriamente curta e imprevisível.

[v] Patterns of success and failure (52-54)

- (52) Este capítulo termina com uma avaliação do quinhão relativo de sucesso desfrutado pelos 59 clubes que participaram da FL em algum momento entre 1888-1915.

- (52) A preocupação da FL com controle de qualidade evidenciava-se também no que tange à questão da promoção e do rebaixamento. Primeiramente, quando a 2ª. divisão foi criada em 1892, rebaixamento e promoção eram resolvidos através de uma série de jogos eliminatórios entre os 3 piores da 1ª. divisão e os 3 melhores da 2ª. divisão. Estes jogos foram reorganizados em uma espécie de mini-campeonato em 1896, mas este sistema foi abandonado Finalmente, em 1898, adotou-se o sistema da promoção e do rebaixamento automáticos, refletindo o aproveitamento durante toda a temporada. depois de um resultado “arranjado” entre Stoke e Burnley em 1898.

- (52-3) Um rigoroso procedimento de re-eleição (para a FL) foi também adotado, com os 4 piores clubes da 2ª. divisão tendo que pleitear anualmente a sua reeleição. O sistema foi bem utilizado, com 15 clubes sendo “expulsos” entre 1890-1915. Ao contrário do que viria ocorrer em boa parte do século XX, o processo de reeleição não foi prejudicado por preconceitos em termos de tradição histórica.

- (53) Até que ponto todas estas estratégias produziram uma liga equilibrada? John Harding fala nos “super-oito” (Aston Villa, Everton, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Newcastle, Sheffield Wednesday e Sunderland), que teriam dominado o jogo no início do século XX. Não há dúvida de que certos clubes monopolizaram parte significativa das melhores colocações. Quatro clubes, Villa, Everton, Sunderland e Newcastle, tomaram 50 das 108 possíveis colocações entre os 4 primeiros entre 1889 e 1915 e 15 dos possíveis lugares nas finais de FA Cup no mesmo período.

- (53) Em termos gerais, todavia, existia uma situação de razoável competitividade. Dez clubes diferentes ganharam o campeonato em 27 anos, enquanto 18 ganharam a FA Cup, mais suscetível à influência da sorte.

- (53) Só o Aston Villa e o Sunderland chegaram perto de dominarem o futebol inglês por períodos longos. O Villa ganhou o campeonato 5 vezes entre 1894 e 1900 e a FA Cup duas vezes no mesmo período, fazendo o “double” (FL e FA Cup) em 1897. O Sunderland conseguiu 5 campeonatos bem espalhados entre 1892-1913.

- (53) Em geral, todavia, mesmo os melhores times tendiam a ser bem sucedidos em períodos curtos seguidos por fases de maior ou menor declínio. O Preston North End, tão dominante entre 1888-1893, foi rebaixado 3 vezes entre 1901-14; o Liverpool foi rebaixado em 1904, apenas 3 temporadas depois de ganhar o campeonato e por aí vai.

- (53) A 2ª. divisão era menos competitiva, mas mesmo nesta a coisa melhorará a partir de 1915. A FL estava sendo bem sucedida em seus esforços.

- (53-4) Existiam, todavia, alguns fatores que escapavam à legislação. Mesmo neste estágio inicial e à despeito de toda a regulamentação, parece que o tamanho da população, tão simplesmente, era um fator importante para o sucesso do clube. Nenhuma cidade com a população menor do que 100 mil pessoas foi capaz de gerar um time campeão, com Preston (117 mil) no início do período e Blackburn (133 mil) no fim, como as menores cidades a conseguir isto.

- (54) A FA Cup, menos dependente de um sucesso prolongado, fornecia um caminho melhor para os clubes de cidades menores (Bury 1900 e 1902; Barnsley 1912 e Burnley 1914).

- (54) Ao mesmo tempo, as dificuldades sem fim enfrentadas por clubes como Glossop North End e Gainsborough Trinity mostravam que o futebol na FL não era sustentável em comunidades com população abaixo de 30.000.

- (54) Obviamente o sucesso dependia, em última instância, da geralmente intangível mistura de habilidade do treinador, qualidade dos olheiros e da química do time. De qualquer forma, embora uma ampla base demográfica e o concomitante forte apoio da torcida que isso gerava não garantissem o sucesso, decerto ajudava.

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